TRABALHO DOCENTE FEMINIZADO

as percepções produzidas sobre a profissão e as influências na organização e valorização do trabalho do magistério

Palavras-chave: Trabalho Docente, Feminização, Valorização do magistério

Resumo

Este artigo analisa o processo de trabalho docente, as tensões e deslocamentos presentes na sua constituição e as implicações da sua feminização na organização da profissão docente. Objetiva compreender em que medida a feminização do magistério incide sobre as percepções produzidas sobre essa profissão e a sua (des)valorização. Utilizou-se, além do referencial teórico que versa sobre a temática, dados de uma pesquisa qualitativa que se valeu de um estudo de base documental, realizada entre 2015 e 2016 pelas autoras. Entende-se que o trabalho docente é uma categoria histórica e socialmente constituída, portanto, apresenta atravessamentos que trazem implicações políticas, econômicas e culturais sobre a sua produção, como a feminização. Conclui-se que se por um lado não se pode culpabilizar as mulheres (nem os homens) pela desvalorização do trabalho docente, tendo em vista que esse é um fenômeno consubstancial e estrutural, por outro, é nítido que o imaginário social ainda presente em relação ao magistério e ao trabalho docente implica na forma como se tem historicamente (des)valorizado a profissão docente no Brasil.

Biografia do Autor

Erineusa Maria da Silva, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais (NEPE), Brasil.

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Mestre em Educação e Licenciada em Educação Física por esta mesma Universidade e Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Vila Velha. Atua como docente na UFES, onde coordena os cursos de extensão “Cuidadores que Dançam” e “CriaDança”, vinculados ao Curso de Licenciatura em Educação Física da UFES. É pesquisadora do Centro de Pesquisa em Formação Inicial e Continuada em Educação Física (Práxis), do Centro de Educação Física e Desportos, e do Núcleo de Estudos em Políticas Educacionais (NEPE), do Centro de Educação, ambos da (UFES). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação docente, atuando principalmente nos seguintes temas: Trabalho Docente, formação docente, política educacional, relações de gênero.

Elda Alvarenga, Universidade Estácio de Sá (UNESA), Brasil

Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Espirito Santo (UFES), Mestre em Educação e Licenciada em Pedagogia pela mesma Universidade. Atua como docente na Universidade Estácio de Sá (Vila Velha), onde coordena o Curso de Licenciatura em Pedagogia. Tem experiência na área de Educação Básica e Ensino Superior, é membro do Núcleo Capixaba de Pesquisa em História da Educação (NUCAPHE/UFES) e atua principalmente nos seguintes temas: educação, gênero, movimentos sociais, pesquisa educacional e história das mulheres.

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Publicado
29-12-2017
Como Citar
SILVA, E.; ALVARENGA, E. TRABALHO DOCENTE FEMINIZADO. RTPS - Revista Trabalho, Política e Sociedade, v. 2, n. 3, p. p. 343-362, 29 dez. 2017.