Da Precarização aos Afetos

sentidos e significados do trabalho docente no período pandêmico

Palavras-chave: Condições de Trabalho, Trabalho Docente, Ensino Fundamental, Pandemia de COVID-19

Resumo

Diante das más condições de trabalho vividas pelos professores nas últimas décadas, que se agravaram a partir da emergência da pandemia de Covid-19, o presente artigo busca investigar os sentidos e significações que os professores de ensino fundamental dão à experiência laboral. Trata-se de uma pesquisa qualitativa desenvolvida a partir de grupos focais com 16 professores de duas escolas da rede pública de um município do Ceará. Os dados foram tratados a partir da Análise de Conteúdo. Compreendeu-se que os sentidos e significações construídos sobre o trabalho docente, considerando-se os aspectos relacionais, subjetivos, sociais e organizacionais, reforçam e atualizam a precarização pré-existente, mas também apontam novas formas de enfrentá-la.

Biografia do Autor

Gabriela Mota-Sousa, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Brasil

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Especialista na modalidade de Residência Multiprofissional em Saúde, área profissional Psicologia, pela UNIFESP. 

Francisco Antonio de Castro Lacaz, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Brasil

Doutor em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com Estágio Pós-Doutoral em Psicologia Social pela Universidade Autônoma de Barcelona (2009). É Professor Titular (aposentado) da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atualmente é Professor Titular Sênior, mediante aprovação da Congregação da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, em conformidade com Termo de Colaboração firmado em 10/09/2018. Nesta condição, é membro do quadro docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UNIFESP. Também atua como Docente Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Arthur Chioro, Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Departamento de Medicina Preventiva

Doutor em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atualmente é Professor-Adjunto do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM) da UNIFESP, ´onde integra o quadro docente do Programa de Pós-Graduação em do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da EPM/UNIFESP e o Laboratório de Saúde Coletiva (LASCOL). É Professor de Saúde Coletiva da Faculdade de Fisioterapia (UNISANTA) e da Faculdade de Medicina (UNIMES), ambas de Santos, SP. Foi secretário municipal de saúde de São Vicente, SP (1993-1996) e de São Bernardo do Campo, SP (2009-2014). Foi presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (COSEMS/SP) por três mandatos. Foi Diretor do Departamento de Atenção Especializada do Ministério da Saúde (2003-2005) e Ministro de Estado da Saúde (2014-2015).

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Publicado
30-12-2021
Como Citar
MOTA-SOUSA, G.; LACAZ, F.; CHIORO, A. Da Precarização aos Afetos. RTPS - Revista Trabalho, Política e Sociedade, v. 6, n. 11, p. p. 519-538, 30 dez. 2021.
Seção
Artigos